Ensinar
ou não ensinar Literatura?
Por Núbia Régia de Almeida*
Questiona-se muito a respeito da importância
de se ensinar Literatura no ensino fundamental e médio, visto
que se entende Literatura como ficção e, por isso, tanto para
muitos alunos e pais quanto para alguns professores, parece que
a ficção é tomada como oposta ao real, o que serve como forte
pressuposto para o questionamento de sua aprendizagem.
Sabe-se que a disciplina de Literatura no
ensino médio faz parte do componente curricular, o que torna seu
ensino obrigatório. Entretanto, no ensino fundamental, os
docentes procuram ensiná-la dentro da disciplina de Língua
Portuguesa. Não quero com esse questionamento passar a falsa
idéia de que a escola, alunos ou pais possam optar por ter ou
não ter o ensino da Literatura. O Intuito desse texto é
apresentar dados que possam contribuir para responder esta
questão: por que ensinar Literatura, já que se trata de ficção?
Sendo a Literatura uma obra de ficção, não
deixa de ter como instrumento a linguagem e como diz a poetisa e
escritora Suzana Vargas, no livro Leitura uma aprendizagem de
prazer. Editora José Olímpio. “a linguagem é o real, é o
modo como o entendo e o expresso. O imaginário é também o real
enquanto expresso pela linguagem”.
Do ponto de vista da linguagem literária não
há verdade ou mentira, pois os textos se constroem de tal forma,
com características discursivas específicas, que não cabe ao
leitor julgar a linguagem verdadeira ou mentirosa.
Para não ficarmos apenas no âmbito do
verdadeiro ou ficcional, é interessante observarmos que
justamente o critério ficcional do texto literário, considerado
por alunos, pais e educadores para justificarem o afastamento da
Literatura, é que nos possibilita por meio de outras dimensões
alargar o nosso conhecimento, porque sendo o texto ficção possui
como característica essencial a plurissignificação, isto é,
permite ao leitor várias maneiras de ler o texto, exigindo dele
uma participação ativa que possibilitará a interação com o
texto.
Assim, a obra literária não é um produto
fixo; ganha vida própria na medida em que o leitor interage com
ela – decodificando-a, aceitando-a e a rejeitando – e, desse
modo, ele vivencia a leitura tornando-a uma obra viva.
Estudar as obras literárias leva o aluno a
conhecer vários aspectos de determinado período, como fatores
históricos, sociais e psicológicos, pois, por meio delas, os
autores imprimem marcas expressivas de determinada geração. O
estudante, ao entrar em contato com esses livros, irá abstrair
por meio da leitura informações predominante daquele período em
que a obra foi escrita, como em O Cortiço de Aluísio de Azevedo
que evidencia o universo social precário e miserável em que
vivia os moradores do Cortiço sem nenhuma perspectiva social
relegados às determinações supostamente já definidas étnica
(raça), social (meio) e historicamente (momento).
Nesse romance o autor se baseia nas
teorias cientificistas da época como (Evolucionismo, Darwinismo,
Determinismo, Positivismo) as quais defendem que o homem é fruto
do meio em que vive. Aluísio retrata a sociedade carioca ainda
em processo de construção e transformações desordenadas devido à
chegada em massa de migrantes e imigrantes. Ele procura através
do determinismo evidenciar a exploração brutal do trabalho
servil na figura da escrava Bertoleza, assim como a exploração
dos inquilinos, dos fregueses da venda e dos empregados da
pedreira, pelo inescrupuloso João Romão, que passa da condição
de pobre, humilde para uma pessoa bem sucedida, ambição que
transcende também no desejo de crescer culturalmente,
influenciado pelo sucesso de seu vizinho Miranda. O Contrário
ocorre com Jerônimo, português de bons costumes, muito
trabalhador, porém ao mudar-se para o Cortiço apaixona-se por
Rita Baiana, mulata que gostava de uma patuscada e aos poucos
Jerônimo envolvido por ela deixa sua tradição, sua ambição e
desejo de crescer e vai se entregando aos costumes brasileiros.
A leitura dessa obra é agradável e envolvente,
leva-nos a analisar de forma diferente a burguesia da época e o
período escravista, e como a mulher negra e pobre era tratada.
Literatura é arte e, por ser ficcional, deve
ser apresentada aos alunos como algo que pode ser recriado e não
como uma disciplina estanque. Ela precisa ser explorada com
dinamicidade e criatividade, a fim de acrescentar subsídios ao
crescimento e conhecimento do leitor. O professor deve adotar
procedimentos nos princípios da transversalidade e da
descompartimentalização do saber. É sabido que todo texto
literário veicula saberes e que no momento da leitura o aluno
pode desencadear novas aprendizagens decorrentes de suas
experiências e emoções. É interessante que o professor
contextualize a época em que o texto foi composto, pois
permitirá ao aluno fazer um paralelo entre o cotidiano que vive
e a realidade que provocou o autor a compor a obra literária. No
caso de O Cortiço, podemos fazer o paralelo entre o Cortiço
povoado pelos mestiços, negros, e imigrantes, população de baixa
renda, representado hoje pelas grandes favelas existentes não só
no Rio de Janeiro como também nas metrópoles. Em o Cortiço as
ameaças eram as doenças, epidemias que assolavam a população e
colocava em risco a nobreza, hoje essa ameaça as classes
dominantes é vista através da violência advinda das favelas.
O pressuposto básico é de que o professor
deve ser um bom leitor e deve exercer o papel de mediador do
texto com o leitor, provocá-lo, para que tenha curiosidade em
descobrir as emoções causadas por uma leitura, fazer reflexões,
adquirir referências e, quem sabe, mudar a maneira de pensar e
agir. No Poema Eu, Etiqueta de Carlos Drummond de Andrade o
professor poderá trabalhar a leitura e análise reflexiva com os
alunos fazendo abordagens sobre o consumismo deliberadamente, e
principalmente enfatizar e levá-los a perceber os valores
referente ao ser e não ao ter. Diante da análise é possível que
muitos estudantes reflitam sobre o interesse e jogo de idéias
que está por trás das propagandas, e dos programas televisivos
que divulga a moda e o consumismo exagerado de produtos tidos
como excelentes, mas que na maioria das vezes não necessitamos
possuí-los e em detrimento da análise poderão mudar suas
atitudes e comportamentos sobre o consumismo desenfreado.
Segundo Antônio Cândido, crítico literário e
sociólogo e autor de Vários escritos.Editora Duas Cidades
e Literatura e Sociedade – Estudos de Teoria e História
Literária. T.A. Queiroz Editor ,
não há povo e nem homem que possa viver sem a possibilidade de
entrar em contato com alguma espécie de fabulação, assim como
não conseguimos passar 24 horas sem sonhar durante à noite, ou
sem se entregar em alguns momentos do dia ao mundo das fábulas,
dos sonhos e da fantasia. Ele vê a literatura como manifestação
universal de todos os homens e em todos os tempos e, como tal,
corresponde a uma necessidade universal que precisa ser
satisfeita. Diante do exposto, fica aí a pergunta: é importante
ou não ensinar Literatura?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
(1) VARGAS, Suzana. Leitura uma aprendizagem
de prazer. Rio de Janeiro, José Olympio, 3ª Ed. 1997.
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. São Paulo,
Duas Cidades, 3ª Ed. Revista e ampliada, 1995.
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade
estudos de Teoria e História Literária. São Paulo. T.A. Queiroz
Editor, 8ª Ed. 2000.
Ensinar ou não ensinar Literatura?
– Disponível em
< http://66.228.120.252/artigos/2039641/ >
Ensinar Ou Não Ensinar
Literatura? – Disponível em
<
http://www.artigonal.com/educacao-artigos/ensinar-ou-nao-ensinar-literatura-1794880.html
>
*Núbia Régia de Almeida é professora graduada
em Letras e especialista em Supervisão Escolar e em Gestão
Educacional. Técnica de Monitoramento de Gestão da Diretoria
Regional de Ensino de Araguaína, no Tocantins. E-mail:
nubiaregia20@gmail.com
.
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